O Impacto dos ácaros na heveicultura. Saiba como previnir.
A otimização da produção de látex é um fator que permeia todo o trabalho das consultorias e serviços da Consultec Agro. Produtividade faz parte da nossa cultura e no final das contas é ela o grande balizador que diferencia uma propriedade da outra.
Com o lema da produtividade, nos vêm à mente um dos maiores vilões que afetam a mesma: a incidência descontrolada dos ácaros.
O que é um ácaro e qual é a sua função biológica.
Ácaros são Aracnídeos, geralmente invisíveis a olho nú, pertencentes à subclasse Acari. São o segundo maior grupo de animais, atrás dos insetos, e estão presentes em todos os biomas terrestres. São mais de 50.000 ácaros conhecidos e é estimado que conheçamos apenas 10% do total.
Com função biológica importante na decomposição do material orgânico, os ácaros são parte integrante do ciclo do carbono, responsável pela manutenção de toda a vida em nosso planeta.
Para os humanos são majoritariamente inofensivos, mas responsáveis por 80% das alergias. Outras poucas parasitam a pele humana e menos ainda são vetores de doenças.
Os ácaros fitófagos, que parasitam as plantas, são outra história. Presentes em abundância, podem gerar estragos gigantescos em qualquer cultura, já que impactam diretamente na capacidade das plantas em realizar a fotossíntese. E isso, para o produtor, traduz-se em perda de produtividade.
O impacto dos ácaros na heveicultura.
Os dois principais ácaros que são danosos à produtividade do látex são o Calacarus heveae Feres (ácaro branco) e o Tenuipalpus heveae Baker (ácaro vermeho). Existem outros, mas no momento não causam danos significativos ao seringal.
Os ácaros causam danos às folhas que podem resultar em lesões e desfolhamento intenso. Isso impacta diretamente na produtividade e pode trazer um decréscimo na produção de até 30%. Muito está em jogo.
Como ocorre a ação dos ácaros na produtividade do látex.
A produção de látex pela árvore da seringueira é resultado de uma complexa cadeia de eventos biofísicos, nutricionais e metabólicos. Essa cadeia se relaciona com um vasto conjunto de fatores e entre eles está a translocação dos fotoassimilados.
Resumidamente é o transporte dos assimilados pela fotossíntese realizada nas folhas, com ênfase a sacarose, para os outros órgãos da planta. Com isso em mente fica claro como o desfolhamento intenso causado pela infestação de ácaros impacta na produção da borracha natural.
Os danos causados ocorrem principalmente entre os meses de fevereiro a julho. A sazonalidade da seringueira no planalto paulista segue um padrão que vê o pico da produção de coágulo de látex entre maio e agosto. E é aí que mora o perigo, uma infestação descontrolada de ácaros bem durante o pico da produção.
Como identificar o Calacarus heveae, o temido ácaro branco.
Este microácaro desenvolve-se em grandes populações na face superior das folhas maduras da seringueira. É importante notar que os sintomas visuais que descreveremos não têm relação direta com o número de ácaros que infestam as árvores e muito menos com a necessidade de controle químico ou biológico.
O aspecto do ácaro branco depende do ciclo biológico, que se inicia com a fase de ovo, larva, passando pela fase de ninfa e chegando à fase adulta. Os ovos são arredondados e achatados, após a postura ficam esbranquiçados e depois translúcidos, como uma micro gota de água.
Ao eclodirem, as larvas passam pela ecdise para a fase de ninfa e mais uma vez para a fase adulta. Esse processo, que é a troca do exoesqueleto para possibilitar o crescimento do ácaro, deixa o primeiro vestígio, a exúvia. São restos do exoesqueleto antigo, pequenos filamentos brancos que a olho nú deixam a folha com um aspecto empoeirado.
Na fase adulta o ácaro branco é cinza brilhante e ao atingir a maturidade fica cinza opaco. Alguns adultos podem apresentar coloração em tons de marrom. Diferentemente da maioria dos ácaros, possui apenas 2 pares de patas.
Nas folhas o processo de alimentação do Calacarus heveae deixa em grande parte das vezes um sintoma característico: as lesões em forma de mosaico. Aqui citamos a Dra. Marineide Rosa Vieira:
“…sintoma de amarelecimento do tipo mosaico, em que gradualmente há o desenvolvimento de áreas com coloração amarelada, intercaladas com áreas verdes normais, assemelhando-se ao sintoma de mosaico provocado por vírus em diferentes culturas”.
Em algumas situações há o aparecimento de um sintoma atípico, em forma de descoloração ou bronzeamento generalizada, mais difíceis de identificar.
O Calacarus Heveae está associado a anos mais chuvosos.
Como identificar o Tenuipalpus heveae, o ácaro vermelho.
Por sua vez, o ácaro plano vermelho ataca a face inferior das folhas da seringueira madura. é o ácaro de maior incidência, sobretudo no Estado de São Paulo.
Os ovos são inicialmente alaranjados e depois tornam-se esbranquiçados ao chegarem perto da eclosão. O ácaro vermelho passa por dois estágios de ninfa antes de chegar à vida adulta. Na vida adulta tem a aparência mais tradicional de ácaros, com 4 pares de patas e alaranjados.
Menos estudado do que o ácaro branco, parece estar associado a períodos mais secos.
O sintoma prevalente é o aparecimento de exúvias e ovos ao longo das nervuras e necrose ao redor das mesmas. Com o passar do tempo as folhas começam a ficar amareladas e um intenso desfolhamento tem início.
O combate aos ácaros. Como é feito?
Basicamente temos 2 tipos de manejo. O controle químico e o biológico.
Antes de tudo é bom ressaltar que os sintomas visuais são um indício que houve uma infestação e não quer dizer que o controle deva ser feito naquele momento e nem mesmo que a infestação ainda está em curso. Apenas um monitoramento completo da área trará um diagnóstico.
As recomendações iniciais são as seguintes:
- Evitar pulverização sem critério pré-definido, pois atingem também os inimigos naturais, predadores de ácaros prejudiciais para a cultura;
- Se houver grande presença de predadores naturais, não realizar controle químico;
- Sempre identificar os ácaros, ou demais pragas, antes de definir qualquer ação no campo;
- Recomenda-se o controle quando há áreas endêmicas, em clones menos tolerantes aos ácaros e quando houver uma grande infestação identificada com o auxílio de lupa de aumento.
O controle químico dos ácaros na heveicultura
Primeiramente, nenhum controle químico é realmente recomendado. Eles podem ser tóxicos ao homem e aos animais presentes no seringal e em alguns casos contaminar o solo e a água.
De fato, existem poucas informações sobre a verdadeira eficácia dos acaricidas e apenas um deles possui registro para o uso, o Espirodiclofeno para o Ácaro Vermelho.
O controle biológico dos ácaros na heveicultura
O controle através de fungos que atacam os ácaros e outras pragas é geralmente o caminho a ser seguido. Os fungos entomopatogênicos são grandes aliados da heveicultura, pois são inimigos naturais dos ácaros.
Os fungos entomopatogênicos têm a habilidade de colonizar os ácaros causando uma infecção fúngica, que pode levar à morte ou interferir na capacidade de alimentação e reprodução do ácaro. Os fungos mais utilizados na heveicultura são o Hirsutella thompsonii, o Metarhizium anisopliae e o Beauveria bassiana. Os fungos têm uma ação mais lenta e precisam de condições específicas para serem eficazes.
O papel dos clones no combate aos ácaros.
Apesar de existirem estudos que indicam que os clones IAC 15, IAC 40, IAC 300, IAN 3156 e PB 28/59 são mais resistentes a ataques de ácaros (Lara, 1991; Pallini et al., 2001), a produtividade e a rusticidade do RRIM 600 faz com que os clones mais resistentes quase nunca sejam plantados.
Como fazer o controle de ácaros da maneira certa.
A aproximação mais correta no combate aos ácaros é ter uma abordagem técnica sobre o assunto. Um estudo detalhado da severidade por amostragem da infestação deve ser realizado e um plano de ação detalhado deve ser traçado.
Por isso, sempre é recomendável conversar com pessoas com conhecimento e principalmente com experiência no combate aos ácaros nas seringueiras. Essa mentalidade gerará frutos que serão sentidas no seu bolso.